Instinto

"Da ação sem considerações, o instinto.
Feita em conjunto é o que represento.
Eu represento o instinto coletivo."

Já chamaram de samba minha tristeza
Tentaram me publicar, me cantar
E no que fizeram, me confortei
Cantavam minha desventura por suas

Já me condenaram à solidão constante
quando acreditei nas idéias marginais
"Nasce-se sozinho, morre-se também"
Já me vi nas letras desta maldição

Reverberei então por minhas ações
as treliças que rugiam meu destino
E, que maldade a minha, convenci
Fiz acreditarem na minha maldição

Mas o Sol nasceu, passei a enxergar
As mãos que meus olhos tampavam
as tirei, as cuspi, as ignorei
A multidão que me regia não mais existia

Era eu, eu e o mundo, eu e meu mundo
Eu e minhas escolhas, eu e meus pensamentos
Eu e meus instintos, minhas idéias, minha força
Minhas decisões, minha cara, era eu

Era de novo, como antes da maldição coletiva
da força bruta da massificação, do tudo igual
da idéia de uma idéia única e fraca de desunião
Era o meu instinto, coletivo das pessoas que sou.

De onde vem a perfeição

Na maioria das vezes, ter o controle é simples. Sentir o controle é simples, é facil. O que nos atinge de verdade são os momentos de indecisão. A nós foram compelidos sete pecados, constituições de delitos, prêmios Nobel e Oscar, direções firmes sobre certo e errado. Há no vácuo das medidas a indecisão. E o que fazer quando tudo se resume em não se saber o que fazer? Alguns optam por não fazer nada, pois se a escolha não é óbvia, não é originalmente correta. Outros sentem que é neste momento que nascem os heróis, os poderosos, os vitoriosos.

Sempre achei muito escuso definir a perfeição como a complitude. Se divagarmos em exemplos, digamos que a vida é um filme e que você o assista do começo ao fim. No fim, porém, este não existe mais, suas possibilidades se foram, suas formas estão eternizadas e suas idéias não mudarão nem que todos os anos do universo se passem. Pense então se você assiste o filme pela metade e se caiba a imaginar todo o resto. A perfeição não pode ser algo imutável, eterno e constante. A perfeição é a água que toma a forma do jarro, seja qual for o jarro.

Daí então, se posta a idéia principal: seria a idéia melhor escolher a opção certa, obvia, completa? Ou seria a indecisão a porta final para a decisão perfeita?

Para não parar

"Para as horas que não sou tão bom
há de existir uma nova canção."

Nasce em mim nas horas de suspense
uma energia desconhecida e nasce
nas pontas dos meus saberes
uma solitária idéia de emoção

Dá-se à minha fúria inebriante
a atenção que eu quero e que deixo
A verdade que nela existe
e que não deixo passar

Da fonte que em mim sobra
sobressalta uma direção
Um novo norte que me apontam
uma nova clara visão

E a coisa mais certa de todas as coisas
é o caminho que sorvo e canto
Essa força excessiva me ergue
e caminha com meus pés por mim

E me leva, essa força, essa força tamanha
Esse tantra, meu único validado mantra
Me leva a cantar o que não via
E vejo que daqui em diante não posso parar

No fim estou aqui, onde sempre estive
E se passos dei, me trouxeram de volta
Aqui sou o mesmo, talvez melhor
E se melhor, por isso é que eu canto.

A última história

Para sempre e por último
Haverá de vir de você
A última lembrança de amor
A última história que não acabou

Dos ventres nascerão outras
Muitas severas, muitas brandas
Todas terão seu fim, sem exceção
Todas ocorrerão, todas acabarão

No caminho tão longo e tétrico
Bas pernoites dos pensamentos
Nos longínquos percorreres da vida
Haverá início, haverá meio, haverá fim.

Mas você, ah você!
Para sempre terei você para lembrar
Para sempre terei você para comparar
Para sofrer, para chorar
Para lamentar não ter dado certo
Para me maltratar por ter feito tudo
Para querer voltar no tempo
E o tempo parar
No segundo final que você estava comigo
Para te olhar uma última vez
Para te abraçar uma última vez
Para terminar nossa história

Minha história de amor
que nunca terminou
Minha eterna, eterna
última história sem fim.

Auto da Solidão

"Muito se falou de caminho,
de verdades amargas
e de sincrionias necessárias.
Faltou falar da solidão."

Há no caminho um parte de passos
Que de olhos fechados muitos percorrem
Há que se olhar e enxergar o chão
Seja de lama, concreto ou de brilho.

Faço da solidão um momento
E destruo a negação do que é
Fecho a cara para as idéias que não penso
Não nomeio, não mascaro, não nego.

Na solidão sou quem sou
É cara e custa muito para tomá-la
Me desfaço dela só para aqueles
Que me dão as mãos no meu caminho.

Três Partes

"Os humanos, três partes terão
A mente, o corpo e o espírito."

Somos nós dois três desenhos
três peças da arte escultural
três passos, esquerda direita pausa
três notas em reprise inconsciente

Um: o corpo

A verdade que descongela em verão
O toque malévolo, quente, elétrico
A vontade animal, irracional, perfeita
A união sem contextos, sem história

Nos nossos corpos mora o sexo
independente e sensorial
a vertente que anima os karmas
a embriagues insólita e natural

Dois: a mente

Duas mentes, dois guerreiros
Uma luta, horas juntos, horas contra
As palavras que condenam, as que amam
As idéias que conduzem os passos

A razão que sobrevive ao caos
a inteligência que discute, que prega
as poesias que te iludem em tema
e te arrastam para a fantasia vital

Três: o espírito

Da união a luz, o tom, o som, a cor
a confusão que se une, se verte
e firma em insólitos a definição
da beleza que somos e apenas somos juntos

A resposta, o motivo, a intenção
da vida que tomamos, dos tropeços
das feridas agoniantes, da espera
Somos a arte que impressiona

Unidos os três nos tornam algo mais
Fora das palavras, dos gestos, dos sons
Somos juntos tão positivos que o que nos envolve
soturnamente se torna fácil de viver.

A pergunta

A minha sorte se desloca continuamente
e posta-se em findáveis horas montadas
Se inicia, acontece e passa
Quando toma conta de mim a pergunta

A minha felicidade é constante
e também os são seus motivos
a contrapartida existe e é válida
infindável também, justificada também

O que me ronda e importa não se vai
não se esvai, não pende, não se degrada
O que me induz às sensações crônicas
é que vem, acontece e passa

E a pergunta nunca morre:
o que me prende aqui?

E a resposta sempre muda
o que não muda é minha busca
interminável porquê quero
por uma resposta diferente.

O levante do Império Dourado

"and from the ashes he rised
not white, not black
the new king of the third empire
rised covered with gold."

Dá-se à redenção a força da calma
e de não estar sob sua comanda
a falsa impressão do trabalho feito
e do descanso proveniente

Crê-se na claridade do branco
e na minimidade das indulgências
perante a fortuita proteção garantida
e à confiança no eterno perfeito

Enxerga-se no negro a contra-partida
Uma explosão de máximos imediatos
Revertindo as morais e delegando-se
ao súbito fim de amarguras infinitas

Oferecem os reis alvos e negros
em condição de tratado deles mesmos
uma chance de escolha dupla e somente
Seja meu ou dele e pronto

Eis que do infinito vazio nasce e aparece
a terceira opção oculta e tanto encoberta
por, nomeá-los-ei, Deus e o Diabo
destruindo vossas correntes de contenção

Está aqui o novo Terceiro Império
limpo de alvuras e escuridões
completamente vindo de dentro
e obedecendo somente e tanto a seu rei

Graças ao Império Dourado
Livre de indulgências e danações eternas
Completo e suficiente de hoje até o infinito
Graças à seu magnífico Rei:
você.

Dourada Lista

Vindas refusórias dicas dos então angelicais
em ordem de lista se apresentaram
Indusivas e por pressão preparatórias
as douradas cinco ordens fundamentais

Mantenha:
vossos olhos visionando teu centro
vossos braços curando carências
vossos lábios na função de sorrir
vossos dentes quietos na fúria

Reverta:
gritos em fugas
marcas em memórias
tristezas em altura
fim em início

Amplie:
qualquer alegria
vossa consciência
vossa coragem
vosso ataque leonino

Ruja:
a ponto de assustar
a ponto de se firmar
até que a opressão não exista
até que o respeito seja incontestável

Finalize:
e saiba que do fim vem o próximo
pois se há amargura, não há alegria que compense
e ressucite maior, melhor, mais à frente
antes que as boas lembranças se tinjam

Siga a lista.

De olhos bem abertos

De uma discreta onda amarela
Particular de vislumbres deleitosos
Se viu e todos viram nascer
Meu impávido corpo visionário

De natureza contemplativa
Seguiam meus olhares por dentro
dos campos fixos onde brotavam
Eu que tudo só olhava

Eu que tudo só observava
As idéias que cresciam em ramos
e as que ainda era sementes
Eu não era a água que as regava

Eu não sou a água que a alimenta
Idéia maioral que degusto nos dedos
Motivo do silêncio que me cobre à noite
Eu não sou teu dono criador

E melhor que assim seja
Pois se depois de formada e feita
Busca o autor uma nova idéia
Eu a admiro sem tempo para parar.

Médios Atos

"O melhor ator se conhece melhor que seus personagens"

Marcados passos e contados dias
de um autor que sempre ama o fim
vastamente alagando seus olhos
afogando o decorrer

Sentar por sobre os fatos e encontrar
no desfecho de qualquer o amor
pelas verdades mascaradas e amar mais
a mentira que lhe agradava

Ser e desdenhar quem não é
a peça fundamental e a forma inteira
E no entanto fingir ser pouco
rindo tímidamente de quem acredita

Encontrar minutos de solidão
em dias de super efusivos encontros
e os fazer valer tão muito
e os saber, os digerir

Reencenar por toda vida
na constância das ondas
um oceano de personagens
de um filme sem fim
pois o que finda não é o ator
é o ato, é a peça.

Eu e você

"Eu e você quando somos válidos,
somos o reflexo silencioso da Lua,
a verdade pré-póstuma do Sol,
o código firmado da Terra."

Saber quem é você
e somente eu saber tanto
e somente eu querer tanto
saber e você

Me saber quem sou
para sua alegria
para minha verdade
quem sou eu para você e para mim

Não prestar atenção
em quem somos
em que somos
e só sermos

Eu e você.