12/14/2009

Representatividade Fulana

"As horas são números,
passos contados no percurso
Sigo distraído da razão
me orientando pelo sol a pino"

Eu sou o café da manhã que você perdeu
sou a perna de trás do cachorro que passa
sou a espuma branca da segunda onda do mar
sou cinza que se desprende do cigarro ao teu lado

Sou o penúltimo parágrafo do teu livro preferido
o sussurro imaginado que você ouve na madrugada
sou a linha trançada no teu vestido
sou a marca de sol na tua pele branca

Porquê foi a mim que deixaste tomando café sozinho
Era eu quem guiava o cachorro que passou
Era eu quem nadava enquanto me olhavas na segunda onda
Era meu o cigarro que soltava cinzas ao teu lado

Porquê fui eu quem escreveu teu livro preferido
É na minha voz que o sussurro imaginário te perturba
Era eu quem destrançava teu vestido
Era em mim que pensavas enquanto tomavas sol

Eu estou na tua vida, tua história
na constância que não desejavas
e separados estarei mais ainda
nas lembranças infindáveis.

11/28/2009

Liberdade psicológica

Uma frase sempre me deixou muito distraído. "Quem planta vento colhe tempestade." Eu consigo imaginar a metáfora de colher tempestade como receber um levante de más notícias e situações árduas, mas não consigo trazer a lógica de plantar vento. Mas o que isso importa, afinal? Várias coisas na nossa vida passam sem apresentar a lógica alinhada que esperamos e, engraçado ou irônico, ainda não sei, são estas as que nos marcam mais.
O senso da irracionalidade, da animalidade, do instinto e da quebra das regras sociais é ainda muito devasso para ser apreciado, mas vagarosamente cresce. Uma certa escuridão ainda não iluminada pela renascência, um fundo do tacho da Idade Média, nos indica desde a infância que seguir as regras é o melhor, que se manter na normalidade é o melhor. Vários e vários já tentaram quebrar essa regra, mas apelaram para o extremismo e por isso não receberam o condecoramento pelo incentivo dado à humanidade em prol da evolução. Os anormais foram loucos demais para serem apreciados.
É onde nasceu minha idéia: vamos a passos pequenos desfazer a regra, o regulamento, a norma de conduta. Mas bem devagar. Não vamos sair pelados gritando "Sou maluco beleza" nem nos vestir inteiros de neon e trocar nosso sexo várias vezes durante a vida. Vamos ser anormais em doses naturais como não pensar tanto antes de conversar com um estranho ou não se conter a dançar uma música no meio de uma multidão, beijar alguém pela simples vontade de sentir aquela onda elétrica e não por ter achado a pessoa interessante psicológicamente, ser naturalmente educado pela simples felicidade de surpreender uma pessoa com simpatia gratuita, se emocionar e entender que o sofrimento é um sentimento tão grande quanto o amor (só se trata de uma emoção basicamente diferente, como fogo se difere da água), abusar da humildade verdadeira e não ter medo de ser julgado como mais fraco e mais sofrido. Para conseguir tudo isso é verdadeiramente simples: basta entender que os parâmetros da sociedade que te julga são virtuais, ou seja, sempre que alguém é humilhado é porque se deixou transparecer humilhado, sempre que alguém é diminuido, é porque se mostrou menor e por aí vai. Se você se entender, se souber do que é capaz (e geralmente isso vai muito além mesmo do que as pessoas acreditam) e se acreditar por entendimento que o julgamento do outro só serve mesmo para te desviar da sua felicidade, a Idade Média acaba.

11/25/2009

Olhos abertos

Eu tenho sérias manias comportamentais que me distam do plano modelo que a sociedade propõe através de filmes como Forrest Gump ou séries como Friends. Eu não sou nada disso e sempre que tentei parecer com tal forma moldada, me senti como se não me reconhecesse.
Foi então que decidi entender quem eu era num contexto mais amplo. Eu sou aquele que ri mais quando está feliz do que quando ouve ou vê algo engraçado. Eu sou aquele que é sensível às mudanças à minha volta. Alguns acham que eu sofro de transtorno bipolar de comportamento. Eu só acho que eu reajo instantaneamente às coisas. Eu sou aquele que dança sozinho em casa exatamente do mesmo jeito que dança no meio de uma boate cheia de pessoas. Eu sou aquele que bebe sem medo de passar mal no outro dia e consegue rir quando isso acontece. Eu sou aquele que morre de medo das doenças que o cigarro pode trazer, mas se acha vivo quando pode tomar café de olhos fechados de sono e com um cigarro aceso na mão esquerda. Eu sou aquele que sabe mentir muito bem, mas que há alguns anos já não o faz por achar as complicações de se dizer a verdade muito mais proveitosas do que as complicações de se dizer a mentira. Eu sou aquele que se apaixona pelas coisas com uma facilidade incrível, pelo simples fato de conseguir enxergar e imaginar um futuro mágico. Por este mesmo motivo eu sou aquele que amou poucas coisas e pessoas na vida, pois o futuro mágico quase nunca se concretiza. Quase. Eu sou aquele que não se priva de viver, seja por barreiras de orgulho, preconceito, medo ou covardia. Eu sou mesmo corajoso, principalmente em situações psicológicas e me orgulho disso. Eu sou aquele que passou por várias coisas inimagináveis, tanto boas quanto ruins, mas que das boas fez lembranças inesquecíveis e das ruins, lições inesquecíveis.
E depois de tanto me analisar, percebi que não sou mesmo parecido com o modelo social perfeito e esperado por todos. Eu passei dos limites várias vezes e continuarei a passar, porque eu não me sinto feliz obedecendo e me encaixando e me adaptando. Eu não sei me adaptar, eu não vou e nem tentarei. Eu sou uma coisa muito inicial e muito personalizada pra tentar me juntar a grupos generalistas. Uma das poucas coisas que me apaixonei e amei depois de conhecer muito bem foi, sem narcisismo, a mim mesmo. E por fim, admito que ainda não encontrei uma pessoa que ame tanto que minha vida se pareça com um ciclo completo, mas não vai ser me modificando que eu vou achá-la. Nem a procurando. Só vou achá-la se continuar me conhecendo, me reconhecendo e sem me adaptar jamais.

11/03/2009

Final

Não será diferente sua revanche, seu intento,
que tal qual ele já muitos sofri e mesmo os fiz.
Não ouvirei teu chamado, não te oferecerei batalha,
não te olharei nos olhos, não te dirigirei a palavra,
não te reconhecerei de propósito,
não apontarei a ti meu sorriso.

A qualidade de finada banha o que fomos
e de morta nossa intenção, nosso gesto.
Já não me recordo do formato do teu abraço,
das linhas de teu rosto, da tua velocidade,
da tua voz baixa murmurando que me ama.

E a volta nunca acontecerá, pois sou:
o navio que lhe despediu no cais e naufragou.
A onda que se elevou e agora jás nos bancos de areia.
A folha que, solta da árvore, esta nunca mais viu.
o vento que lhe agitou os cabelos e subiu.
O fogo que aqueceu e nas cinzas se fez lembrança.
O som que antecedeu o silêncio que seremos para sempre.

10/23/2009

Lua

Rezam em senzalas as mucamas para um corpo pagão noturnamente iluminado. A reza baixa murmura agradecimentos, nobres frente à súplica suja de lodo que os senhores de engenho dedicam suas preces. De mãos arqueadas, olhos encimados à longa linha que trespassa o horizonte, ditam um mantra oral e de muita clareza as mucamas que nesta hora deveriam dormir na senzala. Mas superior aos sonhos é a prece rezada. Mais se fazem concentradas à luz que provém do céu, assentadas em seus rotos lençóis de linhas vadias do que as donas da fazenda, ajoelhadas em frente pedestais sob a santa de pedra. Nossa Senhora Aparecida, pintada com tintas feitas de frutos do chão, esculpida em pedra-sabão que abunda nos rios. As donas rezam à terra, aos corpos que alcançam e portanto rezam ao que tocam. A Nossa Senhora dos brancos é feita pelos brancos, de materiais que colhem os brancos. Rezam a si mesmos, os brancos. Na senzala, a Nossa Senhora que recebe as devoções não lá se encontra. Não se colhe nos beira-rios o material do qual se a faz, não se pinta das cores dos frutos da terra. A Nossa Senhora da senzala não se toca. A Lua é a Nossa Senhora da senzala. Para as mucamas, de mãos coalhadas e fissuradas, unidas ou erguidas durante a gratidão cantada em murmurios, nomeia-se a Lua Nossa Senhora do Silêncio. Rezam os escravos aos céus e para aquilo que não é deles nem nunca será e deles serão as graças ouvidas então. Não rezam a si mesmos, nem à aldeia, nem à vida que se arrasta nos dias de sol e se fincam nos dias de tronco, nem à desgraça que deveriam não aceitar. Agradecem ao que lhes foi dado, mesmo que este chegue perto do nada. É a fé sendo um ponto de luz num mar de escuridão. É a Nossa Senhora do Silêncio, calada, vazia no céu negro abissal, iluminando os olhos de quem a pede perdão.

10/22/2009

Guitar Senses

"Ofecerer simplesmente
a ávida porção de tortas
mas displicentes meninices
que me desagradam tanto."


Me recuso com a força, que saem
das minhas oralidades, das palavras
a seguir o prescrito roteiro requerido
por sua ingenuidade decepcionante

Me acovardo gratuitamente e trago
em minhas decisões a coragem
de desistir das promessas provindas
em vista das impedimentas que ditas

Te acuso de requerer o império
quando tuas não são nem as estradas
e perdeste com atos o que era teu
por pura imaginação adiantada

Foi bom, durou
Enfim acabou
é o fim.

10/20/2009

Segunda Feira

"Cada dia de praia no escuro
será uma segunda feira mais feliz"


Velarei teus olhos fechados
para que abertos se clareiem de luz
Sentirei sua voz em cada mínimo ponto
para que eu saiba de verdade o que me diz

Te farei e seremos a calma onda que quebra
e calados falaremos mais que qualquer palavra
De cada segundo faremos anos e assim
os anos se passarão em segundos

Serei tua certeza sólida e talvez única
e tanto que mesmo no maior desencontro
venha de você a confiança inexplicável
vestida de uma entrega mais forte e melhor

Em troca, seria você:
a marca que nunca mais desaparece
o sorriso que resgata a energia
a história que une
as confissões que aproximam
o abraço que significa
as mãos dadas que nunca serão imóveis

9/17/2009

A maresia e o vento

"Hold on to your kind."

A maresia que contorna o ar
supõe que a veracidade do vento existe
e que sua feroicdade expressa
a liberdade que nos encontros grita

A turva memória da grandiosidade
cada vez mais veloz se esvai
e calo na simplicidade do que tenho
me apoiando na gratidão plena

Avante vão as certezas
por sobre as curiosidades
Adorando melhor a posse sólida
por sobre o líquido desejo

A maresia fere vagarosamente
Esgarça continuamente os pilares férreos
E acreditando somente no vento
sobrevivem minhas colunas de concreto

A maresia, material flútuo do desejo
por sobre meu corpo passa
O vento, adulo da conquista me toca
e acreditando nele me sustento.

9/06/2009

Re-lares

"A vista de um espelho
reversa e abstrata.
A vista do ser humano
olhando uma alma farta."

Por mais tempo lecionei
que saboreei o adivinhar
o esperar, o surpreender
E por tal minha voz é fraca

Destronei a divertida felicidade
por uma falta de imaginação
Horas cansativa, horas febril
e me deitei no conforto do nada

Abduzi o que antes conduzia
Eletromagneticamente minha áuera
Engoli, digeri, absorvi, destruí
e em pratos limpos minha fome aumenta

E se, em um dia qualquer, eu:
Reaver sem pedir o susto
Desdobrar as leituras sem entender
Conversar ouvindo por querer
Achar graça por me rever casto
Nas minhas mãos não saberei o que é meu.

8/24/2009

Personagens Mundiais

"Eu falo de anjos porquê sou brega.

Se fosse moderno falava de twitter."


Anjos de pedra do martírio impetuoso

Que se cravam na tenra finalidade

Da vistoria, da maioria, do trabalho

Desapegados de próprios resultados


Demônios de brasa do rasgo crônico

Que se largam na destrutiva motivação

Do desligamento, do isolamento, do descaso

Para próprios benefícios e nada mais


Ledos humanos, maiores enganos

Seguidores desprovidos de bússola sua

Soltos no tudo e presos no nada

Perdidos no seu próprio encontro


Falecidos, completas histórias

Diariamente se aumentando em memória

Dissipando erros, encarnando vitórias

Vencedores sem presença


E no calor do sol e sob a luz fria da lua

Dançam em grupo anjos e demônios

Seres vivos e almas de lembrança

Na roda infinita da história do planeta.

6/26/2009

Lorena e Marcelo

"O caminho, as pedras rotas embalam
Navegantes rosas nas ondas do mar, se espalham
Na abertura do cosmo, estrelas se calam
As palavras dentro de minha boca, falam"

Lorena:
Levantou-se marinamente como ondas
de um leito semi-maternal, quente
para uma redigida dança habituosa
saliente e polivalente, para o carnal

Marcelo:
Se trocou, de liberdade a cifras
de caridade e falácia a monetárias fissuras
Empregou-se a caminhar no atalho
e perdeu-se da alegria pobre

Ambos:
De encontro na vastidão popular
Lorena e Marcelo, praia e mar
se desconstruiram potentes
ele, simples
ela, candura

Até quando a água d'areia não se fartar
e nem os grãos da umidade se envenenarem
serão de mãos dadas, a formalidade
de lábios tocados, a sexualidade
de olhos encontrados, a sinceridade
da emoção do encontro, a eletricidade
de corações colados, a felicidade

6/03/2009

Longas fases

"Ser breve deixa espaços
que são preenchidos por mentes,
que não minha.
Falo tudo então."



Conflitos de menores portes
generosas ponderações animalescas
por sobre e constantes na vida
aprofundantes, tais movediças dunas

No levante solar não só raios se exalam
mas também a realidada animada
aquecendo a ponto de queimar
qualquer mente do sono ainda não atordoada

Dia após dia tantras finais nos alcançam os ouvidos
uma vida inteira absorta na idônea sensação
do término próximo, de um certo reinício
que quando se alcançam, são invisíveis

Presos no que sente a espectadoria geral
nos finais dez minutos de um filme qualquer
perguntamos sentidos quando se instala tal fim
se não nos enchem os olhos resoluções típicas

Animai-vos uns aos outros, reclamava o certo
Porque o fim não existe nunca para um só
mas para vossas companhias, amizades
O que termina não és tu, mas o que te rondas

E como num filme, se o fim chegou
trata-se da história finalmente contada
e se foi boa, ruim, amarga ou curta, não importa
desde que a inércia não se abateu em ti

Hoje, mais um dia, ontem, a última história
É sempre o sol e seus olhos se abrindo
o ponto final do escuro de suas pálpebras
se tornando o começo da luz que banha as pupilas

Acordei de meus amigos, de ontem
abri meus olhos dos líberos destratos
na luz lembrei de nada além da alvidade
e recém nasci por vontade própr

5/22/2009

Canhotismo

"Quando se abrem as páginas da onisciência
e se as lêem frente e verso, amante e amada,
a descoberta se desfaz, a rotina manda
e da rotina provas o amor de verdade"


No que te prenso, se esvai
se corro se desvias, corre mais
se paro me vem em direção
se fecho os olhos grita-me canção

Em quando me desejas herói
te renego, piso, dilacero
e se por vislumbre me ensejas ódio
te salvo, te olho, te falo, te encanto

E quando te marco e tanto machuco
entre vícios e demarcações me cria amor
e quando te amo se enche
se cansa e se desvia

Entre brigas e lados, choros calados
noites pensadas, manias veladas
Um em cada olhar que se afunda
Outro silêncio causado, amargo

Se te jogo para qualquer canto que tenho
me relembras o que é ser centro
Quando me fecho e não, por opção, penso,
se desenhas irracional

Se volto, vem
Se canto, calas
Se choro, secas
Se seco, choras
Se morro, vem
Se venho, morres
Se olho, desvias
Se desvio, olhas
Se amo, sorri
Se sorrio, me lembras
que amor se desvia
não se encontra
se tenta

Na mão direita enlaço a calma
na esquerda tu és ferida
Na calma tudo vai bem
na esquerda eu sinto e apenas sinto

E penso:
vivo sem sentir, direito
ou sinto morrendo que vivo...canhoto?

5/11/2009

Lento sorriso

"eu somos nós
eles são você
juntos estamos sós
sozinhos sem querer"


Merecem douze ou mais levantes
os que empostam milenares vozes
inventam e fingem centenaridades
e se passam e convencem

Em pausas marcadas fecha os olhos
tenramente se encosta e desola, descansa
e devagar se balança, no seu lugar
e perde a vitória que não presta

Mas ganha com emoção nos lábios
a disputa entre o lateral e o central
entre a distinção e a imposição
entre a multidão e a simplicidade

Manter-se na brisa embriagante
e dançar o barulho do mar
eu de mãos dadas com meus irmãos
sabendo ser feliz, nada mais.

4/08/2009

Belo Horizonte

"When the day is over,
everything gets dark.
So do things in life."

A felicidade que me acompanha
navega por turbulencias do mar
que perseguem minha alma ferida
pelas ondas seguintes, pelo ar

A sinergia plena que me acode
tenra-se fielmente aos súbitos
que tais me giram e ficam
eventualmente crônicos

Os acertos se iniciam ternos
e seriam doces e rígidos
não fosse a mais dura sua manutenção
a incessante busca por sua manutenção

A absolvição que me pertence não salva
me afasta das energias que criei e quis

"Sê pleno e livre para a salvação"
livre não só de erros, mas de tudo
das pessoas que já amou
dos conceitos que criou
da força garantida com os erros
da consistência que tua pele recebeu
das tentativas que não se foram

"Livra-te e desista das pendências"
das questões sem resposta
das vivências ainda não explicadas
das curiosidades que te prendem
dos sonhos que ainda não vieram

"Esteja firme incorpóreo inmental"
deixe seu corpo e dele as marcas
deixe para trás as tuas considerações
as tuas descobertas, criações

"Sê novo para meu império eterno"
e serei.
Para trás ficam minhas partes
mentais, animais, corporais
Sobram os sonhos que tive
as pessoas com quem estive
que virarão sombras a mais
meu passado inteiro na forma de um sonho
e nada mais.

3/30/2009

Excesso

"Dê-me o excesso e eu o bebo
me mostre tudo a mais
que no excesso me afogo
e no que além vejo, nada vejo mais."


A megera falível descrevia
umidamente e cativa a mesma,
mesma história, frígida e cálida
Mera fria rejuvenescida ômega-minha

Sensualizava a criatividade e a fazia
espalhar e faiscar nos retumbantes olhos
d'outros e de memória minha, comparativos
a gigantesca especulação onírica

Creta não melhor faria sangrar e exibir
a pseudo-surrealidade que me levava
e no sereiano canto eu dormia e sorria
atravessando campos que poucos viam

O véu ilusório era tocável, sólido e real
incontestavelmente paradoxal e ali
me abraçando, me esquentando, me em mim
e no espelho a reflexão me mostrava

Nada mudara além do etéreo clarão
que me aureava e circundava
no meio eu mesmo como sempre
como nunca mudava meu em volta

Maarah, o tenro anjo de Alah me veio:
"Te pertence e tudo é teu.
O que ainda não, lhe dou de bom grado.
A gratitude não lhe é cobrada,
a obra é de graça, não queremos nada.
Tudo te pertence e é teu.
Será nossa apenas a confluência
das emotivas ondas que lhe emergem
de anti-inércia, anti-material
secretamente potentes demais.
O que nos pertence é tua vitória,
é teu encontro real."

De mim correram mentalmente as palavras:
"Maarah, não me prometas.
Não me tentes, não me cometa,
se em tanto início me canso já
e pretendo não por intento continuar.
Sou melhor menos tenso,
um tanto menor.
Com tanto que tinha já me contento,
no que me mergulhas sobro e transbordo.
Pena que tenho, de ti e da tua religião,
se de mim esperam a supremacia reta
e lhes entrego como resposta
o contentamento torto
com o que tinha, com o pouco."

Brilho fortemente ainda
e por tempo que virá
mas melhor serei, e hei,
se menos iluminar e no escuro puder deitar,
calmo, dormindo, apagado e finito.

3/24/2009

Distorção da distância imposta

"Eles ainda falam que sabem,
mas dessa vez eu já sei.
Mais sei eu sobre no que interfiro
e no que quero intervir."



Esquenta inquieta tua pele, semblante,
à deriva das frígidas, negativas e prestas
correcionistas pessoas, lívidas.
Tua pele torrada as renega.

Se agita cada filigrana interna tua,
se reverte às potências convergíveis,
se estrangula, se contorce
quando se contesta à sociedade a tua biologia

Seria a minha liberdade, a tua vontade,
interna e natural, nascida e imutável?
Nossa crença na atualização
é infortuna se somos os nossos cromossomos?

As nossas mãos que se unem escorregam
pela advertida sociedade que entre estão
na forma de manteiga, dissipando nossa união
na provatória de que a distância é mortal

Eu a renego e renega tu o aviso
de que eu me firo e quebro a razão
mas não ouço e me desligo se te quero
e roboticamente me mantenho gravado
e repetindo incessante:
o que sei é que te quero
não me importa aonde e quando.

2/23/2009

Profusão

"A armadora juventude se pregou
e impregnou as brumas que se elevavam
e contagiou qualquer perséfone aliante
e qualquer mente, por ali passante."


Uma única ou várias cordas se saltavam
e frigidamente se indelicavam as cores
se tornando torrentes de fluxo e paixão
concordando o deslumbre e a prisão

O devanescer tenramente se desviou
e de duas malignações vigentes e presentes,
horas positivas horas não
se tornou a sensitiva profusão de forças

Desregrante da liberdade divina
tão persuativa, tão perseguida
me encontrei na negativa
na que eu encontrei prisão colorida

Era eu feliz por partes
e partes várias e constantes
inegávelmente eu era a arte
e não mais pincel e as canvas brancas

E de tudo renegado e aconselhado
nada tive de importante a concluir
a não ser que profuí das correntezas
que gigantes se encontraram sem trombo

Se era raiva ou maldição
ou impotência ou percurso
Era eu na multidão
encontrado no mundo

2/16/2009

Gratidão do decegar

"Quando os olhos se abrem
e o fim da escuridão acontece
a alegria das cores que te rodam
e do fim da falta que elas faziam,
é inexplicável o tanto que te engrandece."


Ser cego na multidão
não ver o caminho concreto
cair e se deitar na escuridão
não saber o que está cheio, vazio

A perdição e a ignorância na vida
se dadivam cada vez mais
mas ignorar a alegria que te impressiona
é negá-la com toda burrice que existe

Alcançar sempre se posta num ato heróico
mas tentar e tentar e tentar inconcluso
é se cegar no intento da desgeneralização
da conclusão de que acertar é raro

Mas quando por fim se acerta
não alcançando o topo almejado
mas apreciando a vista do meio do caminho
é acordar, abrir os olhos e enxergar

Ser feliz e não saber é a veia pecaminosa
das entranhas sociais humano-terápicas
Absorver e expressar a felicidade obtida
é ser o máximo de vida e reconhecimento

Ser feliz e saber é o máximo do amor humano
Tanto que meu peito quase não aguenta
e meus olhos se enchem de levitação
É ser grato por um fato gigantesco obtido
e pedir perdão por ele por tanto tempo ter ignorado
Obrigado, do fundo do meu coração.
Obrigado.

2/09/2009

Seguidores do descaso

"O que eu também já nem sei mais,
esse descaso todo,
é ser mais feliz e mais fugaz
que o universo todo."


Maria, Maria, das cordas brancas
que vais a fazer na primavera
se teu mal é a rosa vermelha
e teu bem nesta estação não floriu?

Que te encantas, vilã desnecessária?
Que te tomas, te faz global e séria?
Quem é você, Maria Gardênia?
Que sente você e com que força?

A ignorância, como disse tua mãe
na vasta superioridade senil
é a canção sem palavras
é a ópera matricial da vida

E porque seria a mais perfeita canção
aquela que se priva de palavras?
Pois que senão seria a música, a alegria
e a interpretação impossível, a ignorância

Façamos eu, tu, ele,
nós, eles, elas,
da nossa vida e do cotidiano
uma longa ópera então.

1/10/2009

Desperdício

"Minhas poesias de raiva sempre foram as melhores."

Reviro meus cálidos suprimidos ais
afim de entender e verberar meu álibe
para de ti me fascinar tão fixamente
tão exatamente, tão enjoadamente constante

Sequer quero mesmo a realização final
e me sufoco em tanta inovação
tanta experimentação estrondosa
tanta tanta tanta perdição

Medio qualquer sensação em descontrole
me ameaço, quase passo, quase passa
sequestro a sensação de descompasso
por você, nada mais que minha amizade

Um dia, como canto em reprises eu sumo
e com essa chantagem barata e dúbia
escrevo em meus livros o que era pra ser
e o que nasceu somente para me desapontar.