11/26/2007

Único a dançar

Houve um dia que tudo se amarelou
mesmo de olhos fechados tudo se escondia
nem som nem vozes
difícil de se ver, nada se ouvia

Meus chinelos jogados ao chão
meus verbos todos dançando no singular
fios e fios conectando peças
minhas peças desconectadas do ar

Um abandono fosco desolava meu lugar
uma unicidade plana não parava de tocar
músicas que antes cantei sobre mim mesmo
sobre o que ouvi dizer e o que aprendi a falar

Meus sentimentos baixos se instauraram
Eu, sempre único, mesmo acompanhado
Lutando, mudando e tentando mudar
Acreditando todo dia e tentando acreditar

Para tudo que não via sentido um precisava criar
Toda vez que paro tento me movimentar
Mesmo com meu corpo parado
Minha mente não vai mais parar

11/22/2007

Variações

Por todas as vezes que sentei ao sol
nenhuma delas ceguei-me tal
qual agora me enfrento e estou
tal e qual respiro e sou

Teu mar de luzes que salgara meu distinguir
também me priva do ar que não mais sinto
E as mãos lutando se cansam tanto mais
só um deserto oceânico me circunda

Mergulhado em mortidão, assumo-me refletor
e cada mínimo ponto de luz retumba e te atinge
enfim estou único e sobrevivido
e tú vai se cegando com tua própria expansão

Solitariamente universal trabalho cada força minha
me transformo na maior forma e na mais rara rima
me pareando com gigantescas unidades frias
derretendo cada antigo ponto morto de energia

Me sobreponho e aceito tua reza a mim
concedo futuros frutos e sobriedade
te dou um banho de sanidade
e juntos, inundados de variações
nos tornamos iguais.

11/14/2007

Good Night, Goodbye

"Cada dia de nova criação
crianças novas virão
Coloridas com nossas cores
Cantando nossa canção
Serão crianças lindas
todas, nossa criação."

Suas lutas, capitão
são trevas e ferrenhas pardas
lentas e covardes navalhas sem corte
penetrando em seu coração
totalmente lentamente

Haveria de ser carnaval
se tudo congelasse
mas nem gelo nem falta de ponteiros
faria ser pra sempre seu animar

E em que frasco ou vidro grande
tamparam seus sorrisos, old man?
Que força e tapas usaram
para serem tão desanimadores de ti?

Haveria de ser um inverno
sem fim e mortal
lacrimário e passional
não fossem tuas novas e noventa
gargalhadas displicentes

Para sorrir ninguém precisa de um coração
Eu sorrio, eu gargalho
em ira ou feito de apertos no coração
Não me contenho a rir e rir
se à minha beira beira uma lágrima

Sério me conforto
que já não sei mais chorar
Mas sorrio em horas fatais
dilacerando-me a cada som
Mas nunca chorando
de máscara posta
sorrindo e sofrendo
gargalhando e sangrando
ferido mas nunca morto
destruído mas nunca pouco.

11/07/2007

Velado Portifólio

"Nem o melhor jogador de xadrez
conhece todas as jogadas
ganha todos os jogos,
joga sempre consciente,
domina a si e ao jogo,
joga o jogo e a jogada."


Sua voz tão boa quanto mar
seus olhos fazem correr
qualquer fervor épico
qualquer força vária
qualquer outro olhar

Mas não seria minha a reação
A ignóbil, porém cheia retratação
Seria meu o olhar retorno
O cuspir nos teus sapatos marrons
O reverberarde teus tons e contornos

Se fazem minha porção esmagada
meu grito será sempre esganiçado
em meio à dor e suspiro
reclamarei do meu sangue num ato lírico
numa versão de mim abafada
num olhar, numa exclamação calada

Meus temores eu exponho na prática
As respostas, as julgo a mais
e mais fortes que duzentas mágicas
De mim saem palavras de uma fala voraz

Sou ser intenso demais
muito para mim mesmo
muito mais
e por tal vago a esmo
sozinho de ninguém comigo
já que nem eu comigo mesmo consigo.