10/31/2008

Primeiro passo

"São treze segundos fortes
que arrebatam a magnífica auréola
que te cabe, anjo, que veio a mim
em meio à selva de sombras"

As certezas que te dou já são fortes
Seguras com firmeza a minha mão
e queres mais que segurá-las, as adula
e acaricia minha pele e meu coração

Teu clarão supera qualquer desajuste
tua voz canta as árias dos superiores anjos
teu olhar interfere em minha alma e a aumenta
teu abraço me faz ser maior, o maior do mundo

Ter você é a sensação extrema de intensidade
é ser eternamente luz e clarão dentro de seu abraço
é ser mais que som e visão quando nos une um laço
é ser muito mais que mero humano vagando na escuridão
é ser um ser melhor, mais verdadeiro e mais puro
Me torno por você mais feliz e esperto sem querer
Maior e menos denso, quase sem saber ou ver
Mais calmo e menos tenso, sem fazer o menor esforço

A felicidade que geras não se sabe explicar
só a aproveito muito e sempre e tanto
para que se um dia por invasão da maldade
esta vier a acabar eu lembre bastante
que um dia me tocou a felicidade universal
e que fui alguém melhor por e para você.

10/12/2008

Desimpedimenta rotular

"O conforto mora na filosofia."


Movem-se juntas todas as cáspias
morenas de jambo do Gabão
na dança da noite interna
cremando as frivolidades cristãs

Tentam os revoltos iglus e seus donos
trespassar e transferir a tanto branco
a negra veia e de viés despachar
toda mansidão putrida à imensidão de gelo

Se unem os marujos a braçadas
intentando inverter o curso das correntes
conferindo às remadas o pronto pranto
e as longas lágrimas amargas

Prolongam a noite os metropolitanos jovens
distorcendo o curso diário posto normal
se levantando passadas várias horas
e dormindo gastos de dança ao pôr-da-lua

Sorriem os presidiários a ponto de revoltar
mas tendo motivo, se tornam ideiais
E se riem mais por serem o expoente total
da quebra clara das regras normais

E sorriem juntos todos que revertem a ordem
e fazem da vida uma inconclusão
não seguindo placas ou ditos
ditando sua própria inclusão ou exclusão

E na independência de guia, serão mais:
as de Gabão, os de iglus, os marujos
os jovens, os presidiarios e os contraditórios.
Se portarão como genuínas formas de si mesmos.

10/06/2008

Carta à Martina Avan-Grael

"Martina é,
sempre foi e
sempre será,
a grande parede da minha vida."
(Martina Avan-Grael, p.123)

Martina,

se esta carta lês, ou já me fui ou já estou morto.


Há muito quis lhe contar e muitas vezes quase o fiz, que teus dois segredos me foram revelados por Guidal. E ruí em não poder lhe consolar, sendo eu a resposta para a pergunta que pairava por suas idéias desde a festa de setembro.

Gabriel não está morto. Ele veio até mim após o escândalo de sua mãe e me pediu as chaves da casa de Pitágoras. Eu as dei e lá está ele.

Martina...Gabriel não é seu filho. Seu filho sou eu.


Tobias Duarte

10/02/2008

Desafio do contragrado vital

" - Para que eu deveria deixar tudo que trouxe no carro? Nesta bolsa estão coisas que me protegerão do calor do deserto.
- E você vem para um deserto para não sentir calor, para não se sentir perdido? Para que se importar de sair de casa? Ou larga sua bolsa no carro e vive o que lhe ofereço ou fica no carro esperando as fotos que lhe trarei."



Sobem ao topo do monte Graal
as laicas soberbas virgens
temperadas com a obviedade do suplício
mas estranhamente sorrindo, felizes

Soerguem das plataformas geófagas
as hastes florais, sempre crescentes
verticais sempre e muito,
carentes das flechas de luz solar

Reabrem devagar meus seis karmas
que sempre guerreo intentando fechar
e inundam meus concernes com idéias passadas
com festas há muito terminadas
festas que ainda lembro o que tocava
e repito a dança, na solidez que me confiro
representando o ato sólido do sonho morto
sendo o sonho mais real que existe

Desmudam os monges do voto silencial
e pregam em revolta as tuas repetições
que se expõem muito absurdas
e revoltam as pessoas acordadas

Correm todos, cegos, pela corrida do mundo
e transitam vezes rápidos, vezes devagar
vagam sempre sem rumo, por mais que tentem rumar
se perdem e choram, uns se riem da perdição
e são os que riem que ouço e quero
os que estão e sabem que são perdidos
e não querem se achar, nem nada encontrar
mas vagar cegos, caindo, perdendo,
correndo, sorrindo, de mãos dadas
separando do interno coração o medo,
da razão, que enlouquece a alma, o corpo

Não entendo nem reconheço norte
nas virgens de Graal nem nos monges mudos
não os vejo, não sei quem são
nem as flores que brotam do chão
Mas não entender é o maior truque
que uma mente sã escolhe para si

ou escolhe descobrir respostas e perder:
a sanidade
a sensibilidade
a crença
a inocência
a felicidade
a possibilidade.