2/26/2007

Entrega e queda

"De elmo vestido e espada em punho
O sangue nos braços, a morte na mão
Segue em fúria o humano guerreiro
Em guerra com a solidão"

Passo a passo enervar não é caminho
lentamente a vista enegrece
a razão desfragmenta,
pensamento desaparece.

Solitário sigo a vida
Com peito marcado em ferida
com sopro no coração

Não há lágrima que não seja nada
não há perda que seja esquecida
não há dor que seja fácil
não há derrota desmerecida

Por toda a vida hei de me perder
e desencontrado me julgarei
Mas de muito precisei pra saber
que desencontrado melhor estarei

A alegria que sinto
hoja a vejo porquê caí
O amor que reconheço
hoje sinto porquê morri.

Luz para renascer, abandono para recaminhar

"Todo dia alma morta quer voltar.
Todo dia esperança insiste em perturbar.
Abençoados os que matam a esperança
antes desta o matar."


Gritaram três fadas
"rise and shine"
recebi a ordem de olhos baixos
de vida baixa

"Seu mundo partido está a renovar"
gritavam histéricas
"Vai recomeçar! Vá recomeçar!"

E um coral por minhas costas caminhava
e cantava "você tem força, siga sua vida!"

Eu sem cor nas vestes, sem força nas palavras
sozinho estava por dentro, jogado.
As fadas por fora cantavam
"Este é o fim! Acabou tempo sozinho!
Este é o fim das coisas fugidias e perdidas
fim dos tempos de mão solta sem braço dado
fim da espera longa, fim da madrugada fria.
Este é o fim da tua perdição!"

Sozinho e rodeado
um sorrizo nasceu em mim
com a força de um abismo
No meu céu dançava um dragão de fogo
ascendendo e abraçando toda a escuridão
engolindo as sombriedades com sua imensidão

Rezei toda a força que tinha
estendi meus braços ao vento
e me senti puxado

Tudo que senti foi que pude voar.
Voar para fora da escuridão
Voar para longe da solidão
Voar para longe da espera infinita
Para longe da dor que não acaba
Para longe das mágoas guardadas
Tudo que senti foi que pude voar para longe de uma vida imersa em angústias e choros.
Tudo que pude ver é que minhas asas desta vez estavam firmes.
Tudo que hoje sei é que renasci.

O dia que meu mundo caiu por mim


Já vai por cima das testas
a chuva que nem clareia nem protesta
hei de acordar na hora certa
na medida do céu mais claro
na porção do mar mais alto
em cima da onda
hei de acordar.

Um pincel manchará o céu com rachaduras
rasgará sua complitude
desfará seu ser inteiro
mas não por ti.
Por mim.

Nem ondas de verão nem mornas brisas virão
só o que renasce bruto e negro
ânsia germânica e inverno bretão
fugacidade de mortes e descrença no perdão

Nao será por você tudo que cairá
não será pra você toda a mudança
não será em você o novo caminhar
não será com você a bonança

Serei sozinho o mártir nulo
serei caminho e esperança
serei causa da queda
dos rasgos no céu
do fim da luz solar
do fim das esperanças
do fim das alegrias
das coisas mornas
das coisas luzidas
iluminadas
Será por mim todo o desmoronar

Quebrado e deitado
de olhos bem fechados
meu corpo há de chorar
levantar com punhos quebrados
berrar para tudo que caiu
LEVANTA-TE!
Sozinho os muros do meu mundo subirão
MEU MUNDO se refará por minha voz de comando
A tua será canto longinquo
A tua voz será nada.