9/27/2008

Memórias ao vento

"uma memória
sem uma parte física
é um sonho"

Dois dias de medo afligem
estes e os que estão por vir
na altitude da vertigem
rasas adagas vindo a me ferir

Seca minha boca debaixo
da chuva de palavras amargas
que me cospe e me suja
tão infelizmente

Trafego num mundo irreal
enevoado das coisas que não quero ver
e desfocado daquelas outras
que não admito serem minhas

Será um dia que tudo que virei será claro
e nada apagado, abalroado de nuvem estará?
E se para tal tenho que ver tudo perfeito,
mudará meu mundo ou mudarão meus olhos?

Desistirei eu total das estrelas que brilham
ou as trarei a mim tantas
que as constelações serão lâmpadas
e cometas abrirão força no meu teto?

Não enxergas o tanto que muda
e enverga meu caminho por hora?
Não vês que se até eu cambaleio
você será tombo contínuo na minha estrada?

E quando olho em minhas malas
e de nada mais gosto
as coisas jogo fora, todas
as liberto de mim e mim de delas
as solto e não mais minhas são
e os pedaços do meu passado que elas são
com elas vão
e menos eu eu sou
e menos histórias minhas tenho
e menos do que lembrar tenho
e mais perto de estar novo estou
de começar de novo
de ser eu de novo
sem o borrão da segunda tentativa
sem as falhas do desenho
serei o desenho no papel branco

as coisas da mala eu solto
e você e sua foto nela estão
nela estavam
voam pra longe da minha mala
voa você da minha mala
da minha alma
as coisas da alma eu solto.