11/29/2006

Descontrole

Jogaram-se as moedas ao ar
que será, meu Deus?
Sorte? Azar?

Me desfiz de rédea e trono,
me joguei no esperar
me julguei impassível
me perdoei por crimes loucos
me julguei por violências alheias
achei meu caminho perverso
me reinventei

Amanheço sem pulseira nem mãos,
acordei sem pulso, com todo o coração
batendo firme e estúpido
desejando as moedas nas mãos
a imensa ilusão
o fim eterno sem certo continuar
o mau caminho que tanto brilha nos meus olhos

O mau estapeei de fronte limpa e conservada
de pensamento inórbito e feito de pó de ouro
da imensa verdade que nasce de um descaso póstumo
da felicidade que inalcansável se torna paixão

Hoje joguei meu ouro à porcos tolos
me independi e sorri sem medo
e na valsa do descaminha, na volta,
me retumbo de clareza e força
me encaixo na paz mundial
na paz infernal e temporal
no mundo perfeito de momentos óbvios e soltos

Não há nesse segundo uma sequer morte em minha mão
Não controlo nada, nem mesmo meu coração
Hoje a vida é de qualquer um, menos minha.

Interior

(de mapa e de alma)


A brusa da fia, de manhã rasgô
O trabaio do Zé, no calô piorô
A saúde do homi dessa veiz lascô
Ai que vida doida e difícil.

Tem treis dia que o galo num canta
E se ele num canta, diz que a vida num anda
E se ela num anda, meió pra mim
que continuo nova e longe dos fim

A vida aqui é sufrida
O sol quêma tudo e lasca a gente,
o frio enruga até dente de pente...
Má os chêro das frô na primavera dexa tudo meió

E o Zé fica alegre c'as pranta brotano
E os fio fica alegre c'as frô cresceno
E eu fico alegre com essa vida que num anda
ê essa vida...

Aurora viajante

Hoje uma estrela em meu céu ascendeu
E nada mais justo que dela falar
Tudo dos lados se escuresceu
Não via mais nada, só ela a brilhar

Numa cachoeira um vento soprou
Estrela cadente que me encantou
Espera, espera, não declares sua ida
Expande meu coração à largo e sem medidas
Encatas meu corpo, só mais um pouco

Não é fácil admitir que este brilho é diferente
É um brilho ocupante e intermitente
E não há quem me faça discordar
Que a cadência dessa estrela veio a calhar
Em todo o céu nublado, algo brilhou
Uma aurora nova me atordoou
Me encontro tonto, bêbado de luz
E é desse jeito que me sinto feliz.

A força que aplico em ti

Amigo, este sou eu quem chegou
Carregarei em meus ombros suas lágrimas
Acariciarei suas asas num abraço
Serei teu apoio no fraquejar
Será minha a tua dor
Seremos juntos um ser melhor
Unirei minhas forças às tuas
Juntos, seremos melhor

Amigo, esta é minha a mão que se estende a ti
Sou eu que mudo a máscara triste que me cabe
para uma alegre que te agrada mais
São meus os dedos que acariciarão tua mente

Amigo, este sou eu entregando minha alma
para salvar a tua
Porque, amigo, juntos somos melhores.
Juntos somos melhor.

As escarpas são altas

Nos campos verde e azul marinho,
uma bruma prateada se levanta
e meus cabelos, jogados no vento, cantam.
Eu, de joelhos, clamo.

Dos amores que perdi, faço conta.
E não sai da minha cabeça que isso é uma afronta.
Meus punhos cerrados arrancam o chão,
a luz da Lua não é mais que um clarão.
O lago em meus olhos dança e se colore de estrelas.
O amanhã não parece chegar.
O amanhã não quer chegar.

E de tão alto que estava, de meu último amor, desisti.

As asas que ruflaram levavam minha alma aos céus.
Subi sem nenhum coração.
Este se despedaçou no chão.

O Jornal

Do jornal que acordei lendo,
uma notícia brilhou calma..
Era o início de uma nova jornada
que se anunciava.

As palavras pra descrever,
ali faltaram.
Os desfechos, os mistérios, todos se realizaram.
Os finais se apresentavam.

Havia em toda a notícia uma única imagem:
Um homem fechava a última de dez portas,
fechava com uma chave de pedra.
Havia em sua frente uma porta de ouro,
à qual ele caminharia.

Era o fim de uma Era.
Era o fim do fim.
Era o começo de outra vida.
Era o novo de novo.