8/20/2007

Aquelas

"Nestes vales que perdem a calma
naquelas horas de súbita raiva
exatas sentiam-se as horas
paradas estavam as marcas"

Se toda vez viver fosse assim
exagerado, exibido
aproximado, investido
teria cheiro de várias mortes

Ignorar as vantagens é tal
animalidade que se assim me faço
animal me traço
rompo com meu estar igual

Se sempre igual ficasse porém
muito humano seria, sempre,
e no nunca usaria meu não pensar
Para que então corporal na Terra navegar?

Meu corpo nasceu para a morte
meu coração veio para o corte
Meu sentimento para despertar
Cheiro de muitas mortes me impregnar

Àquelas que me marcam
Àquelas que vagam minhas horas
Estas que me animalizam tal que
perdido e rindo me encontro
Agradeço com meu corpo
e com o que restar de minha razão

8/10/2007

É hora de sumir

"Não existe amanhã
para quem não existe..."

Existir demanda força
e poder de ilusão
Andam minhas forças
brandas

Correr vem de minhas pernas
mas gasta meu pulmão
Se não bate minha vida
por que correria então?

Sorrir não gasta nada
mas pede nenhuma ilusão
Se sigo sonhando direto
como poderia sorrir então?

À noite minha boca não cala
minha alma só fala
e não pára
e não cala
E cada fala gasta minha força
e cada dia me deixa menor
e cada sonho me degrada
em cada segundo me sinto acabar

Amanhã ou depois sumirei
e de mim só terás lembranças
Mas não ruim será
pois se me deixas ir
é porquê falta nunca farei...

8/06/2007

Vencedor e Rei

A amarga falsidade desce devagar
pela garganta e pelas vias
que mais são sentidas
vias mais vivas

A plasticidade prende-te no lugar
torna-te tão não você
que um dia acordas com um estranho
em seu lugar
e não mais és capaz de o estranho expulsar

Cuida para que tu nao te tornes anormal
faça de você mesmo todo seu eu real
trata de dizer o que tens em pensamento
ignora total o que dizem em desprezo
pois apenas tu entende suas razões

Seja firme e crucialmente feroz
defenda teus ares romano e veloz
trata de tuas idéias como se órgãos fossem
seja tu imensamente e constante

No final verás que vale a pena
não fugir à luta
Que quem o rodeia ama
a teu verdadeiro eu
e serás então vencedor e rei de teu mundo

Herói

Mais nada perdura durante a névoa lêda
Sangue recolhe as inanições do local
Seria de Deus a idéia de refugar a alma limpa
e padronizar a alegria pelo anjo conseguida?

As antes muito alvas vestes do anjo então
cinzas de lágrimas se imundaram
e foram tantas evasões morais
e tantas bebidas dragadas
nenhum anjo suportaria
que dirá um anjo anormal

As asas fogueadas cada vez mais ficavam
e a nervosia fazia desolhar o anjo mais
e míope de raiva bravou o anjo direto a Deus
que crime maior Dele foi despertar
um ódio imenso por contrário ter sido à alegria

Nos ventos Gabriel ouvia
palavras firmes voando na brisa:

"Melhor se sofres, por não ter invejadores.
Fosse tu imenso feliz, desilusão vária causaria
e não só um mas tantos tristes estariam.
Melhor que triste fique apenas tú
e outros normais por não verem o topo ao lado.
Sacrifique-se e entenda que melhor vários felizes
que somente tu e teu par."

Álbum de cordas

Fernanda: Essa minha cara de terça-feira...esse meu humor saturado...pele parda...
João: De que falas?
Fernanda: De que falo?
João: Seus gritos acordarão nosso filho.
Fernanda: Que acordem. Ele faz parte dessa miséria.
João: Reclamas da vida mas a tem em condições. Deveria ser punida tú.
Fernanda: Ah como desejo que tal fosse!
João: De que falas, mulher?
Fernanda: Falo da minha falta de música, João. Da minha retumbante falta de alma. Vês a cor de minhas roupas? Beges como a falta de cores. Nem brancas, nem negras. Beges.
João: Que te tomaste mulher?
Fernanda: Nada João! Não vês?
João: Deixe de gritos Fernanda. Seu filho já dorme e nem respeito por isso tens. Engula teus problemas para ti e deixe que fiquemos em paz.
Fernanda: Em paz? São vocês imensa parte de minha vida bege! Se grito melhor que acorde, pois assim me ouvirá!
João: Não seria prudente lamuriar a um menino de adolescente idade. Não lhe faria bem algum.
Fernanda: Pois que não faça. Assim saberia ele que não passa de um inexpressivo garoto com nenhuma habilidade. Um ninguém!
Pedro: Isso é o que se passa nessa sua cabeça doente.
João: Filho, volte. Sua mãe não fala o que pensa.
Fernanda: Falo e hoje é a primeira vez que o faço. Cansei dessa vida inativa, dessa falta de lágrimas, desse grande nada, de ser secretária, vocês não fazerem nada. CANSEI!
João: Reclamas de uma vida boa. Tens saúde e reclamas.
Fernanda: Não me entendes nunca João. Preferia estar de cama, doente de morte! Assim ao menos minha vida balançaria, estaria na beira. Há muito não sinto mais nada João. Há muito!
João: Cala-te mulher idiota. Deverias cair de joelhos pela vida que tens.
Fernanda: Seria mais feliz se caísse, se chorasse mais, se sorrisse mais. Mas vocês dois não fazem nada, são duas almas vazias!
João: Queres perturbar nosso filho?
Fernanda: Pelo menos ele teria uma personalidade. Seria significante e expressivo, seria colorido, ainda que de negras cores, seria mais forte e mais emotivo, atingiria as pessoas mais profundamente, marcaria muito mais!
João: Estás louca!
Fernanda: Talvez esteja, finalmente! Não sabes há quanto procuro assim ficar!
João: PERTURBADA!
Fernanda: Isso! Perturbada! Louca, devassa, maligna, cruel, errada!
João: Por quê fazes isso?
Pedro: Por quê fazes isso?
Fernanda: Porque nunca fiz parte de nenhuma grande idéia em toda a minha vida. Eu sempre fui a média, a normal, a bege! EU ODEIO BEGE!
João: Pedro, já disse, vá dormir!
Pedro: Acho inacreditável que você não perceba que a única inexpressiva neste quarto é você! Se eu e meu pai somos tão média, não por mais seria do que para lhe agradar. Sustentamos nossos espíritos em jaulas para que não nos perturbasse. A nós sempre pareceu escolha tua ser tão tristemente normal. Culpa a nós dois a sua vida entediante??? A FALTA DE CORAGEM PELAS COISAS É SUA E TODA SUA!!!
Fernanda: Minha? ...a culpa... é minha? A culpa é toda minha...

Chorando Fernanda foi para sua cama. João preferiu dormir em outro quarto. Pedro deitou ao lado de sua mãe segurando suas mãos.

8/03/2007

Meu coração numa pulseira de couro

"Um dia no fim de sua vida
verás que o que passou por estupidez era tú
sendo o mais bravo e o mais forte
o mais corajoso e o mais nobre
e que se não se resultou num momento imenso
imenso nunca seria mesmo que racional ficasses"


Intermitentes cenários flutuavam
por entre o carro
que vermelho sangue corria
A alma que insuflava
dentro de um dos velhos carvalhos
era finada e possessa
vibrava tão intensamente
cantava hipnótica
como um rabo verde de sereia
tratava de manter a insuficiencia
de sol no carvalho tal
e distantes as raízes do solo

Do outro segundo carvalho
primeiro não tinha notícias
e tratava por sufoco
segundo que fosse distante
milésimo de segundo longe
Tremia transparentemente
sozinho ignorava as espertas
vozes de sua íntegra razão
abria ouvidos ao maldito
coração

Que razão um dia superará
o aborto senso de perda
a mão que treme pela ida de um
que nas mãos ainda jaz
que nas mãos, chora longo por poder perder
e quando perde portanto,
chora intenso mas pouco por já não mais ter

E quão diferente seria
se carvalho segundo de forma vária
estendesse teus galhos e tremedeiras
aos olhos de carvalho primeiro
e unidos produzissem tão grotesca energia
que nem mais vividos outros seriam capazes
de admitir a existência de tal
de conferir aos tais tal poder irreal
e tornar real a maior de todas as lendas
a lenda da união real

8/02/2007

Razões Várias

Nascer para morrer, viver a vida inteira...sirva de exemplo sempre, meu bom rapaz, nunca desista, sempre queira mais...

Saber quem te ama é bom, amor inteiro e forte, união, traz lembrança cheia de universo e canção, põe o tanto de calma precisa no seu coração...

Haverão no caminho negros cavaleiros, impondo a solidão. Pois que tentem quebrar sua luta, que tentem amarrar suas fugas, nem sempre eles conseguirão...

Pois que tentem cortar suas asas, te dizer palavras fogueadas, não preso estarás pois sempre podes reinventar, fugir dos abutres pulando no mar...

Numa casa completa estás fora, expulso se sentirás, mas vigia bem toda porta, que o amor não demora chegar, insista valentemente no esperar...

Grite seus gritos de dên'da'garganta, que assoados parecem mais mantras ou cantos proibidos de alegrar, exploda duas vezes por dia, sorria sem parar...

Se encontre mais alto que estás, finja vôo mesmo sem querer voar, represente-se ator de viver, atuando uma vida sem você...

Sempre prefira vapor à àgua pura, sempre prefira chuva a vapor, densidade de vida se cura, sensatez não funciona no calor...

Dar risada não é mais problema, viciar-se é coisa pequena, encontrar-se é tão menos formal
Coligar frases soltas é mais fácil, entender multidão é normal, entender seu passado mascado, desenhar seu futuro real...sem perder a timidez nunca, sem deixar de rir jamais...

No final, tudo deu certo. Suas escolhas foram leais, suas promessas foram cumpridas, suas verdades sao mais normais, você permanece vivo, mesmo que com feridas...

8/01/2007

O segredo de Samião

"Durante o decorrer da história,
Helena recebeu diversos nomes.

Há quem a chame de Lenore,
Julieta, Cleópatra e Isobel.

Já Samião, não recebia nomes,
mas sim um codinome:

O portador do Segredo."


Helena gritava forte
"Que quisera quando no mais
rompeste meus ares
quebraste meu cais?"

Com constante movimento bucal
Helena se expunha ao universo local
As guitarras cantavam da boca de Samião
suas respostas fracas
Helena dragava como vulcão

E nem era pela chuva que molhada estava Helena
Mais molhados eram seus olhos
e Samião que tão composto seria
mancava em sua direção
de joelhos cantanto perdão

Jorrava de Helena ondas de fervura
caiam todas sobre Samião
aos dois sobrava o gosto de amargura
sentido na boca, nos olhos, no pulmão

Envoltos de terra negra como dois vagos
Sujos dos pés aos fatos
Imundos pequenos seres
Maltratados, irresultados

Jorrava de Helena sua salvação
e a condenação eterna do imenso Samião
o tão grande
o tão herói
o tão fortuno
o tão mascote
o tão imenso Samião

Coroa se luzia opaca, amassada ao chão
as vestes antes puras e alvas
manchadas de vermelho e terra estavam
nos joelhos arrastos e rasgos
nas mãos suor
mal estavam as vestes do rei Samião

Helena erguia à luz uma espada
e berrava com ares de final
Dois passos até os abertos olhos do rei
e tão logo se fechavam
feria Helena a espada
bem no topo de seu coração

Daquela sala nenhuma criatura devia sair viva
não depois de tão brusca revelação
Nem a tão segredácia Helena
nem o tão revelador Samião