8/06/2007

Vencedor e Rei

A amarga falsidade desce devagar
pela garganta e pelas vias
que mais são sentidas
vias mais vivas

A plasticidade prende-te no lugar
torna-te tão não você
que um dia acordas com um estranho
em seu lugar
e não mais és capaz de o estranho expulsar

Cuida para que tu nao te tornes anormal
faça de você mesmo todo seu eu real
trata de dizer o que tens em pensamento
ignora total o que dizem em desprezo
pois apenas tu entende suas razões

Seja firme e crucialmente feroz
defenda teus ares romano e veloz
trata de tuas idéias como se órgãos fossem
seja tu imensamente e constante

No final verás que vale a pena
não fugir à luta
Que quem o rodeia ama
a teu verdadeiro eu
e serás então vencedor e rei de teu mundo

Herói

Mais nada perdura durante a névoa lêda
Sangue recolhe as inanições do local
Seria de Deus a idéia de refugar a alma limpa
e padronizar a alegria pelo anjo conseguida?

As antes muito alvas vestes do anjo então
cinzas de lágrimas se imundaram
e foram tantas evasões morais
e tantas bebidas dragadas
nenhum anjo suportaria
que dirá um anjo anormal

As asas fogueadas cada vez mais ficavam
e a nervosia fazia desolhar o anjo mais
e míope de raiva bravou o anjo direto a Deus
que crime maior Dele foi despertar
um ódio imenso por contrário ter sido à alegria

Nos ventos Gabriel ouvia
palavras firmes voando na brisa:

"Melhor se sofres, por não ter invejadores.
Fosse tu imenso feliz, desilusão vária causaria
e não só um mas tantos tristes estariam.
Melhor que triste fique apenas tú
e outros normais por não verem o topo ao lado.
Sacrifique-se e entenda que melhor vários felizes
que somente tu e teu par."

Álbum de cordas

Fernanda: Essa minha cara de terça-feira...esse meu humor saturado...pele parda...
João: De que falas?
Fernanda: De que falo?
João: Seus gritos acordarão nosso filho.
Fernanda: Que acordem. Ele faz parte dessa miséria.
João: Reclamas da vida mas a tem em condições. Deveria ser punida tú.
Fernanda: Ah como desejo que tal fosse!
João: De que falas, mulher?
Fernanda: Falo da minha falta de música, João. Da minha retumbante falta de alma. Vês a cor de minhas roupas? Beges como a falta de cores. Nem brancas, nem negras. Beges.
João: Que te tomaste mulher?
Fernanda: Nada João! Não vês?
João: Deixe de gritos Fernanda. Seu filho já dorme e nem respeito por isso tens. Engula teus problemas para ti e deixe que fiquemos em paz.
Fernanda: Em paz? São vocês imensa parte de minha vida bege! Se grito melhor que acorde, pois assim me ouvirá!
João: Não seria prudente lamuriar a um menino de adolescente idade. Não lhe faria bem algum.
Fernanda: Pois que não faça. Assim saberia ele que não passa de um inexpressivo garoto com nenhuma habilidade. Um ninguém!
Pedro: Isso é o que se passa nessa sua cabeça doente.
João: Filho, volte. Sua mãe não fala o que pensa.
Fernanda: Falo e hoje é a primeira vez que o faço. Cansei dessa vida inativa, dessa falta de lágrimas, desse grande nada, de ser secretária, vocês não fazerem nada. CANSEI!
João: Reclamas de uma vida boa. Tens saúde e reclamas.
Fernanda: Não me entendes nunca João. Preferia estar de cama, doente de morte! Assim ao menos minha vida balançaria, estaria na beira. Há muito não sinto mais nada João. Há muito!
João: Cala-te mulher idiota. Deverias cair de joelhos pela vida que tens.
Fernanda: Seria mais feliz se caísse, se chorasse mais, se sorrisse mais. Mas vocês dois não fazem nada, são duas almas vazias!
João: Queres perturbar nosso filho?
Fernanda: Pelo menos ele teria uma personalidade. Seria significante e expressivo, seria colorido, ainda que de negras cores, seria mais forte e mais emotivo, atingiria as pessoas mais profundamente, marcaria muito mais!
João: Estás louca!
Fernanda: Talvez esteja, finalmente! Não sabes há quanto procuro assim ficar!
João: PERTURBADA!
Fernanda: Isso! Perturbada! Louca, devassa, maligna, cruel, errada!
João: Por quê fazes isso?
Pedro: Por quê fazes isso?
Fernanda: Porque nunca fiz parte de nenhuma grande idéia em toda a minha vida. Eu sempre fui a média, a normal, a bege! EU ODEIO BEGE!
João: Pedro, já disse, vá dormir!
Pedro: Acho inacreditável que você não perceba que a única inexpressiva neste quarto é você! Se eu e meu pai somos tão média, não por mais seria do que para lhe agradar. Sustentamos nossos espíritos em jaulas para que não nos perturbasse. A nós sempre pareceu escolha tua ser tão tristemente normal. Culpa a nós dois a sua vida entediante??? A FALTA DE CORAGEM PELAS COISAS É SUA E TODA SUA!!!
Fernanda: Minha? ...a culpa... é minha? A culpa é toda minha...

Chorando Fernanda foi para sua cama. João preferiu dormir em outro quarto. Pedro deitou ao lado de sua mãe segurando suas mãos.