11/28/2009

Liberdade psicológica

Uma frase sempre me deixou muito distraído. "Quem planta vento colhe tempestade." Eu consigo imaginar a metáfora de colher tempestade como receber um levante de más notícias e situações árduas, mas não consigo trazer a lógica de plantar vento. Mas o que isso importa, afinal? Várias coisas na nossa vida passam sem apresentar a lógica alinhada que esperamos e, engraçado ou irônico, ainda não sei, são estas as que nos marcam mais.
O senso da irracionalidade, da animalidade, do instinto e da quebra das regras sociais é ainda muito devasso para ser apreciado, mas vagarosamente cresce. Uma certa escuridão ainda não iluminada pela renascência, um fundo do tacho da Idade Média, nos indica desde a infância que seguir as regras é o melhor, que se manter na normalidade é o melhor. Vários e vários já tentaram quebrar essa regra, mas apelaram para o extremismo e por isso não receberam o condecoramento pelo incentivo dado à humanidade em prol da evolução. Os anormais foram loucos demais para serem apreciados.
É onde nasceu minha idéia: vamos a passos pequenos desfazer a regra, o regulamento, a norma de conduta. Mas bem devagar. Não vamos sair pelados gritando "Sou maluco beleza" nem nos vestir inteiros de neon e trocar nosso sexo várias vezes durante a vida. Vamos ser anormais em doses naturais como não pensar tanto antes de conversar com um estranho ou não se conter a dançar uma música no meio de uma multidão, beijar alguém pela simples vontade de sentir aquela onda elétrica e não por ter achado a pessoa interessante psicológicamente, ser naturalmente educado pela simples felicidade de surpreender uma pessoa com simpatia gratuita, se emocionar e entender que o sofrimento é um sentimento tão grande quanto o amor (só se trata de uma emoção basicamente diferente, como fogo se difere da água), abusar da humildade verdadeira e não ter medo de ser julgado como mais fraco e mais sofrido. Para conseguir tudo isso é verdadeiramente simples: basta entender que os parâmetros da sociedade que te julga são virtuais, ou seja, sempre que alguém é humilhado é porque se deixou transparecer humilhado, sempre que alguém é diminuido, é porque se mostrou menor e por aí vai. Se você se entender, se souber do que é capaz (e geralmente isso vai muito além mesmo do que as pessoas acreditam) e se acreditar por entendimento que o julgamento do outro só serve mesmo para te desviar da sua felicidade, a Idade Média acaba.

11/25/2009

Olhos abertos

Eu tenho sérias manias comportamentais que me distam do plano modelo que a sociedade propõe através de filmes como Forrest Gump ou séries como Friends. Eu não sou nada disso e sempre que tentei parecer com tal forma moldada, me senti como se não me reconhecesse.
Foi então que decidi entender quem eu era num contexto mais amplo. Eu sou aquele que ri mais quando está feliz do que quando ouve ou vê algo engraçado. Eu sou aquele que é sensível às mudanças à minha volta. Alguns acham que eu sofro de transtorno bipolar de comportamento. Eu só acho que eu reajo instantaneamente às coisas. Eu sou aquele que dança sozinho em casa exatamente do mesmo jeito que dança no meio de uma boate cheia de pessoas. Eu sou aquele que bebe sem medo de passar mal no outro dia e consegue rir quando isso acontece. Eu sou aquele que morre de medo das doenças que o cigarro pode trazer, mas se acha vivo quando pode tomar café de olhos fechados de sono e com um cigarro aceso na mão esquerda. Eu sou aquele que sabe mentir muito bem, mas que há alguns anos já não o faz por achar as complicações de se dizer a verdade muito mais proveitosas do que as complicações de se dizer a mentira. Eu sou aquele que se apaixona pelas coisas com uma facilidade incrível, pelo simples fato de conseguir enxergar e imaginar um futuro mágico. Por este mesmo motivo eu sou aquele que amou poucas coisas e pessoas na vida, pois o futuro mágico quase nunca se concretiza. Quase. Eu sou aquele que não se priva de viver, seja por barreiras de orgulho, preconceito, medo ou covardia. Eu sou mesmo corajoso, principalmente em situações psicológicas e me orgulho disso. Eu sou aquele que passou por várias coisas inimagináveis, tanto boas quanto ruins, mas que das boas fez lembranças inesquecíveis e das ruins, lições inesquecíveis.
E depois de tanto me analisar, percebi que não sou mesmo parecido com o modelo social perfeito e esperado por todos. Eu passei dos limites várias vezes e continuarei a passar, porque eu não me sinto feliz obedecendo e me encaixando e me adaptando. Eu não sei me adaptar, eu não vou e nem tentarei. Eu sou uma coisa muito inicial e muito personalizada pra tentar me juntar a grupos generalistas. Uma das poucas coisas que me apaixonei e amei depois de conhecer muito bem foi, sem narcisismo, a mim mesmo. E por fim, admito que ainda não encontrei uma pessoa que ame tanto que minha vida se pareça com um ciclo completo, mas não vai ser me modificando que eu vou achá-la. Nem a procurando. Só vou achá-la se continuar me conhecendo, me reconhecendo e sem me adaptar jamais.

11/03/2009

Final

Não será diferente sua revanche, seu intento,
que tal qual ele já muitos sofri e mesmo os fiz.
Não ouvirei teu chamado, não te oferecerei batalha,
não te olharei nos olhos, não te dirigirei a palavra,
não te reconhecerei de propósito,
não apontarei a ti meu sorriso.

A qualidade de finada banha o que fomos
e de morta nossa intenção, nosso gesto.
Já não me recordo do formato do teu abraço,
das linhas de teu rosto, da tua velocidade,
da tua voz baixa murmurando que me ama.

E a volta nunca acontecerá, pois sou:
o navio que lhe despediu no cais e naufragou.
A onda que se elevou e agora jás nos bancos de areia.
A folha que, solta da árvore, esta nunca mais viu.
o vento que lhe agitou os cabelos e subiu.
O fogo que aqueceu e nas cinzas se fez lembrança.
O som que antecedeu o silêncio que seremos para sempre.